sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Contos de farmacêutica...

Menino de aproximadamente 12 anos entra na farmácia...

Cóf, cóf... cóf cóf cóf cóf cóf cóf cóf (Educadamente coloca as mãos na boca...) - Moça, eu queria um remédio...Cóf, cóf, cóf cóf cóf cóf cóf cóf cóf


Eu aguardo em silêncio tentando não ser invasiva... afinal, todos merecem respeito e acreditando ser um medicamento para tosse...

- Nevalla, nevallá, nev... cóf, cóf

- Neovlar? pergunto afinal...

- Não, é neva... nev... puxa, deixa eu lembrar...

Nisso entra mais um cliente...

- Pois não...

- Pode atender ele primeiro, eu espero...
- Ele está tentando lembrar o nome do remédio...
- Ah, então me dá um multigrip.
- Quanto é?
- Oito reais.
- Ok, 
- Mais alguma coisa senhor?
- Não obrigado...

Volto novamente para meu jovem paciente...

- Para quem  é o remédio? ( pergunto tentando ajudar ...)

- Pra dor... pra minha irmã.

- Pra dor... Seria neosaldina?

- Não, ela disse que tem um V e um  L... Nevalla

- Nevalla... não existe nenhum que eu conheça...

Ele abre o papelzinho escrito: N E V A L L A ... 

É... é pra tosse.. cóf, cóf, cóf...

(Eu) - Não, pra tosse não é mesmo...

- Nããããão pra tosse é pra mim!!!

- Ah, você quer também um xarope pra tosse, vou pegar um.

- Mas não é para criança não, é para adulto...

- Certo... (via das dúvidas, peguei um expectorante de uso adulto e pediátrico)

- Quanto custa esse?

- Vinte reais.

(olhar de espanto) - Não tem um mais barato?

Peguei outros de mesma formulação:

- esse está 18,00 e esse outro 12,00.

cóf, cóf... - Mas o melhor é o de 20,00 né?

- Todos esses são bons.

- Então vou levar esse de 18,00 (sentindo-se maduro ao lidar com o intermediário...)

- Fala para sua mãe que ela dê o xarope à você... (Anotando na caixinha o modo de uso)

- Tá...Eu vou lá falar com a minha irmã e perguntar o nome do remédio...

- Sim, eu espero...

Algum tempo depois ele volta...

- O remédio é neovallar

- NEOVLAR... certo, vou pegar... É para sua irmã?

- Sim

- Quantos anos ela tem?

- Vinte e dois (bom... pensei...menos mal...)

- Moça... (pergunta ele pensativo...)

- Sim?

- Para que é esse remédio?

Silêncio de alguns segundos para ter uma resposta convincente, rápida e segura...

- É um anticoncepcional, respondi mecanicamente, para ver se ele se contentava e parava por aí...

Cóf, cóf.... - Mas pra que, que é?.

Da forma mais simples para acabar com o assunto, pois não sabia se a irmã tomava o medicamento escondido dos  pais... - Pra não ter neném...

Ele pensativo com um olhar misto de espanto e preocupação...

- Pra não pegar neném?

- Isso... Para não ficar gráv... interrompo e prefiro deixar a coisa por ai mesmo e não comprometer ainda mais a moça... Para não "pegar neném". Respondi tentando acabar com o assunto...

Silêncio...

Eu embrulho o medicamento e entrego a ele.

-  Marca para o Mário...

- Mário do que?

- Mário... (tentando lembrar o sobrenome, ou algo que identificasse o tal Mário... mas finalizando com reticências como quem diz:  Mário... como você não sabe qual?

- Ah, tá... Mas se o proprietário da farmácia perguntar que Mario, eu falo o que?

-  Fala que foi o Maurício, filho do Mário que veio pegar o remédio na conta do Mário... ele sabe quem é...

- Certo. Respondi anotando em um papel a parte com a certeza de que haveria algum Mário...

Achei que finalmente tinha acabado a ATENÇÃO FARMACÊUTICA...

- Moça...
- Sim?
- Maaas... Isso não pega né?
- Isso oque? ...

Isso que minha irmã tem... Não vai pegar em mim, vai? Esse neném...

...


Não... não vai pegar em você não... (Acho que não... pensei... rsrsrsrsr)


(Fato verídico:  Atendimento na farmácia transcrito na íntegra de forma mais original possível)